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45 anos da BCG no Brasil: queda de vacinação e maior risco de tuberculose

Publicação: 19 de julho de 2022

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Falar de vacinação para mim, no geral, causa uma satisfação enorme, pois é uma das minhas grandes áreas de atuação, além de ser a melhor arma para o combate de qualquer doença infecciosa. Ao mesmo tempo, isso tem gerado algumas situações desconfortáveis, pois quando falamos da importância das vacinas, temos sido agredidos de forma pesada pelos antivax, ou antivacinas.

Além disso, uma soma de fatores, como a própria pandemia e a falta de campanhas efetivas de vacinação pelo Ministério da Saúde, junto ao movimento antivax, tem afetado na imunização com diversas vacinas.

Um exemplo é a vacina BCG, que depois de 100 anos de sua criação e 45 anos que foi incorporada ao calendário brasileiro, feito neste mês de julho de 2022, tem caído consideravelmente o percentual de vacinação do público-alvo. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2020, a cobertura foi pouco mais de 70%, em 2021 esse percentual baixou dos 70%, e em 2022, até o momento, estamos com aproximadamente 40% de imunização do público-alvo. Sendo que, a meta de vacinados é de pelo menos 90%.

Dessa forma, convidei Eduardo Martins Neto, grande médico e pesquisador desse assunto, para conversar sobre esse tema que é de importância social.

Eduardo é médico pela Universidade de Brasília, mestre e doutor em medicina interna pela Universidade Federal da Bahia, mestre em saúde pública pela Columbia University. Foi médico-assessor responsável pelo monitoramento global da tuberculose na OMS (Organização Mundial da Saúde) de 1996 a 1998. Além disso, é um médico epidemiologista, coordenador do centro de pesquisa da Fundação José Silveira e pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Infectologia da Universidade Federal da Bahia.

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que tem afetado o Brasil historicamente, mas ela tem sido “controlada” após a incorporação da vacina BCG ao nosso programa de vacinação. No entanto, a cobertura vacinal tem caído significativamente nos últimos anos. Pensando nisso, qual a importância dessa vacina ter sido incorporada em nosso PNI e quais os males que a queda na cobertura vacinal pode provocar?

Eduardo Martins Neto: O que BCG? É uma vacina que sempre teve uma controvérsia de sua eficácia e existem trabalhos mostrando que pode proteger em até 80% da doença clínica. Porém, existem trabalhos na Inglaterra, por exemplo, que mostram uma eficácia mais baixa. No Brasil, tivemos a experiência de suspensão da aplicação da vacina BCG por causa dessa dúvida da eficácia. Ela foi suspensa durante algum tempo e, infelizmente, houve um aumento significativo de meningite tuberculosa em crianças. Após essa verificação, retornou-se imediatamente a vacinação em todo o Brasil.

A vacinação do BCG é obrigatória e muito importante para controlar a tuberculose em crianças. Portanto, se existe essa queda da cobertura vacinal, nós esperamos que haja um aumento dos casos de tuberculose meníngea e na incidência geral na população.

Poderia falar um pouco mais sobre a tuberculose? Por exemplo, quais os principais problemas de saúde que essa doença pode causar? Ela afeta apenas os pulmões ou pode ser uma doença sistêmica? Além disso, quais são os grupos de maior risco?

A tuberculose é uma doença crônica infecciosa transmitida principalmente por via aérea. Os principais sintomas são tosse com escarro amarelado por mais de três semanas, febre, perda de peso e dor no tórax. Em 85% dos pacientes, a apresentação é pulmonar, mas sabemos que é uma doença sistêmica e pode atingir cérebro, coração, meninges, pele, intestino, rins e qualquer parte do organismo.

Os grupos de maior risco são os pacientes com imunodeficiência, como quem tem HIV ou outras imunodeficiências como insuficiência renal, ou pacientes tratados com imunossupressores, a silicose é um importante fator de risco. Nós sabemos que o diabetes também aumenta em três vezes o risco de desenvolvimento da tuberculose. A idade que é um fator de risco como uma imunodeficiência não adquirida.

Sabemos que a vacina é a melhor arma contra doenças infectocontagiosa. Dessa forma, quem pode tomar a vacina contra a tuerculose, a BCG e qual o período/idade? Ela é disponível no SUS para todos?

Sabemos que vacinas são realmente poderosas armas contra as doenças infectocontagiosas. A vacinação proporcionou um impacto importante na incidência das doenças infecciosas, diminuindo significantemente sua mortalidade. A BCG é indicada para crianças até cinco anos de idade que não tenham uma doença aguda presente no momento e não tenham um fator de imunodeficiência. Essa é a principal indicação. A vacina BCG é gratuita e disponível no SUS para todos os brasileiros

Hoje em dia, muito se fala sobre os tipos de vacina, se é de mRNA, como a da Pfizer, ou inativada, como a CoronaVac. Que tipo de vacina é essa da BCG? Ela gera 100% de proteção?

BCG significa bacilo de Calmette-Guérin. É uma bactéria viva atenuada, a Mycobacterium bovis, que provoca tuberculose em bovinos. A vacina não protege completamente contra a tuberculose ao longo da vida, porém vem demonstrada sua eficácia contra a tuberculose meníngea e na diminuição geral da incidência na população geral.

Diversos trabalhos na literatura mostram que em diferentes regiões do mundo ela pode ter um impacto na incidência de até 80%, o que é substancial, se pensamos que 1/3 das pessoas tiveram contato com o bacilo da tuberculose e desenvolveram algum tipo de reação, por exemplo o PPD positivo (teste positivo que indica que a pessoa teve infecção pela bactéria causadora da tuberculose).

Qual a mensagem que o senhor deixa para a sociedade sobre a importância do combate à tuberculose e da vacinação com a BCG e demais vacinas?

A tuberculose é uma doença infecciosa tratável que tem uma taxa de cura alta, se o paciente procurar o serviço de saúde precocemente ao desenvolver os sintomas como tosse, escarro e febre por três ou mais semanas. A doença está presente no Brasil, com incidência de mais de 70 mil casos por ano e em torno 1.500 mortes. A vacina BCG é uma medida fundamental de controle da doença no Brasil.

Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/gustavo-cabral/2022/07/11/45-anos-da-bcg-no-brasil-queda-de-vacinacao-e-maior-risco-de-tuberculose.htm

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