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As cientistas capixabas que fazem a diferença na luta contra a Covid-19

Publicação: 6 de abril de 2021

Margareth Dalcolmo, médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, e Ethel Maciel, pós-doutora em Epidemiologia e professora da Ufes, estão entre os profissionais que mais se destacam pelas ações de enfrentamento à Covid-19 no Brasil

Duas mulheres capixabas estão entre os profissionais que mais se destacam pelas ações de enfrentamento à Covid-19 no Brasil: Margareth Dalcolmo e Ethel Maciel. Ao analisar a pandemia pouco mais de um ano depois do primeiro caso confirmado, as pesquisadoras têm em comum o compromisso com a ciência em busca de soluções para o País, que passa pela maior crise sanitária dos últimos 100 anos.

Margareth Dalcolmo, médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), nasceu em Colatina, no Norte do Espírito Santo. A ligação com o Estado ainda se mantém forte em virtude das irmãs, sobrinhos e amigos que ficaram em terras capixabas. Dedicada à profissão, formou-se em Medicina com o objetivo de fazer aquilo que melhor sabe, “assistir bem a uma paciente”.

Diante da pandemia, assim como todos os profissionais da saúde, Margareth também teve a sua rotina impactada diante do fluxo de trabalho e dos desafios a serem vencidos. “Tivemos não apenas que trabalhar, mas tomar conta da nossa família, dos nossos amigos. Temos, como pesquisadores, a responsabilidade de levar informação confiável para a população, traduzindo em uma linguagem que todos entendam e não apenas cientistas”, detalha.

Atualmente, Margareth é uma das coordenadoras principais do estudo internacional que avalia o uso da vacina BCG para reduzir o impacto do novo coronavírus. Mas, mesmo em meio a tanta compromissos em buscar soluções efetivas para o combate à pandemia, a pesquisadora se solidariza com outras mulheres, profissionais da saúde ou não, que tiveram que se reinventar.

Margareth Dalcolmo

Médica e pesquisadora da Fiocruz “A maior carga da pandemia foi para elas, as mulheres. Foram as que mais perderam o emprego, as que tiveram que trabalhar, tomar conta da vida profissional e pessoal com os filhos em casa. Está sendo um desafio para todas nós pelo nível de sofrimento que as mulheres tiveram neste último ano, que têm todos os dias nessa batalha”

E, assim, como diversas outras pessoas, as saudades que permeiam a sua vida neste momento são comuns. “Nunca mais recebi ninguém em minha casa, uma coisa que gosto muito. Sinto saudade da minha vida pessoal, de receber um amigo”, recorda.

A médica Margareth Dalcolmo, cientista e pesquisadora da Fiocruz
Margareth Dalcolmo: médica e pesquisadora da Fiocruz. Crédito: Reprodução/Twitter

CICATRIZES NO FUTURO

Para a pesquisadora, dois problemas são cruciais para o enfrentamento da pandemia no Brasil: o comportamento inadequado da população que não obedece às recomendações sanitárias e a lentidão da vacinação.

“Nós entendemos que todos estão cansados, afinal também estamos passando por isso. Neste momento, é fundamental que medidas de restrições sejam tomadas, que as pessoas respeitem o uso da máscara e o distanciamento social e, sobretudo, que o Governo Federal seja ágil na aquisição de vacinas. A vacinação em massa é a única forma de passarmos por esta pandemia”, explica.

Além disso, o País vai precisar aprender a lidar com as cicatrizes deixadas por esta crise sanitária. “O ensino educacional, por exemplo, está totalmente prejudicado. Vivemos em um Brasil onde a desigualdade social é gritante. Nós, pesquisadores, tememos que o impacto seja em toda uma geração de estudantes que estão distantes do convívio escolar, e, muitas vezes, sem acesso às escolas”, salienta.

No dia 23 de janeiro, a médica capixaba recebeu a primeira dose da vacina AstraZeneca/Oxford. Com outros especialistas, ela foi uma das primeiras a receber o imunizante no Brasil. “Chegará um dia que teremos a cobertura vacinal desejada, de 70% da população, e com as doses produzidas pelos dois grandes institutos públicos do país, Butantan e Fiocruz”, disse Margareth na ocasião. 

Ethel Maciel, enfermeira epidemiologista e colunista de A Gazeta
Ethel Maciel é pós-doutora em Epidemiologia. Crédito: Fernando Madeira

DA DANÇA À PESQUISA 

Acordar cedo, ler os artigos publicados, se atualizar com as notícias locais, nacionais e internacionais e render-se a uma rotina imprevisível, marcada por reuniões on-lines, aulas, lives, além de entrevistas para veículos de comunicação ao redor do mundo. Essa é a rotina da capixaba Ethel Maciel, enfermeira, doutora em Epidemiologia pela UERJ, pós-doutora em Epidemiologia pela Johns Hopkins University (EUA) e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Referência na pesquisa de doenças infecciosas no Brasil e no mundo, a pesquisadora já foi protagonista em outros palcos. Aos 8 anos, ainda morando em Baixo Guandu, Norte do Espírito Santo, Ethel conheceu o balé e apaixonando-se pela dança.

“Aos 17 anos, eu já dava aula de balé, que foi a minha fonte de renda durante toda a minha graduação. A dança é uma das minhas paixões. Tanto que quando eu comecei o curso de Enfermagem na Ufes, fiquei em dúvida em qual carreira eu seguiria. Mas a gente não sabe as coisas que o futuro nos reserva”, observa.

Foi na metade do curso de Enfermagem que Ethel teve o seu primeiro contato com a pesquisa por meio de uma bolsa de Iniciação Científica disponibilizada para estudantes da universidade. “Ali eu sabia que queria ser pesquisadora. Continuei o curso e, no final da graduação, conheci professores que me apresentaram a epidemiologia, área que eu me encontrei e escolhi seguir”, salienta.

De lá para cá, a pesquisadora nunca mais parou. Mestrado, Doutorado, Pós- Doutorado, e tudo simultaneamente a criação dos seus filhos, que hoje têm 30, 22 e 16 anos. Realizou o sonho de estudar na universidade referência em epidemiologia no mundo –  Hopkins University -, ser bolsista por produtividade no CNPQ e de ser consultora em tuberculose da  Organização Mundial da Saúde (OMS).

Hoje, o seu sonho é outro: ver um mundo livre da Covid-19. E para realizá-lo, não deixou de atuar no enfrentamento da doença. Dentre as suas contribuições, Ethel participou do grupo “Eixo Epidemiológico do Plano Operacional Vacinação Covid-19”, criado pelo Ministério da Saúde, no qual pesquisadores e profissionais da saúde se encarregaram de definir os grupos prioritários da vacinação.

Ethel Maciel 

Professora e pesquisadora “Eu tenho muita consciência da responsabilidade de desempenhar neste momento um papel de qualidade, da importância de difundir a ciência, porque sei que muita gente vai se pautar no que vamos falar. Tenho consciência do que é ser uma mulher de referência para outras mulheres, de ser porta-voz para as pessoas. O que desejo é que as mulheres que venham depois de mim, pesquisadores ou não, tenham mais facilidades em conquistar o seu espaço do que eu”

Em março de 2020, a professora, que era vice-reitora da Ufes e a candidata preferida da comunidade acadêmica para assumir a gestão da universidade – ela recebeu a maioria dos votos do Conselho Universitário- foi preterida pelo presidente Jair Bolsonaro para a função.  “Mesmo não sendo nomeada como a gestora máxima, estarei todos os dias comprometida com o projeto construído coletivamente para esta instituição, visando sua potência para toda a sociedade capixaba”, reafirmou Ehtel, na época. 

SEM SONO PENSANDO NA PANDEMIA

Por causa da pandemia, a pesquisadora também precisou realizar mudanças em suas rotina. Não tem mais o encontro presenciais que aconteciam às sextas-feiras com uma amiga e nem as atividades físicas, como pilates e yoga, fora de casa.

“Eu nunca tive problemas para dormir, mas, no início da pandemia, tive dificuldade em ter um sono de qualidade. Nós falamos de coisas ruins o dia todo, repercutindo sobre o vírus, o número de diagnosticados e de óbitos… O que me angustiava era pensar que algo poderia ser feito para minimizar os impactos da pandemia e não causar mortes, mas não era feito”, explica.

Na avaliação de Ethel, voltamos a viver um primeiro semestre do ano muito parecido com 2020. “Os problemas que nos trouxeram a este cenário são muitos, principalmente aqueles relacionados à falta de coordenação nacional. Não fizemos as medidas de enfrentamento que deveríamos fazer, não incentivamos o uso de máscara, não fizemos testagem em massa, não demos condições para as pessoas fazerem um isolamento correto. Além disso, a guerra de narrativas das autoridades políticas nos trouxe a este cenário que estamos”, explica.

Diante do avanço da pandemia no Brasil e presença de novas variantes do coronavírus, Ethel salienta que é fundamental aumentar a testagem para que as pessoas infectadas façam o isolamento o mais rápido possível, além de disponibilizar no Sistema Único de Saúde (Sus) um oxímetro digital para que os próprios pacientes pudesse monitorar a sua oxigenação, e o uso da máscara seja reforçado.

“Com um oxímetro digital, a pessoa que estiver com a saturação abaixo de 92% saberá que deve buscar uma unidade de saúde para atendimento médico. O uso de máscara mais filtrantes, protegendo mais as pessoas. Essas medidas, caso fossem implantadas hoje, ainda salvariam muitas vidas”, observa a pesquisadora capixaba. 

Fonte: https://www.agazeta.com.br/todaselas/as-cientistas-capixabas-que-fazem-a-diferenca-na-luta-contra-a-covid-19-0321?fbclid=IwAR0s27CCyZBcdr2OXgKtDzhwiuUj-8naWfsnHimHZBzc7TRM427FTFFZejM

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