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Atividades em andamento no projeto ExpandTPT e resultados esperados

Publicação: 30 de setembro de 2023

A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo e, para eliminá-la como problema de saúde pública no mundo, a estratégia isolada mais eficaz é a prevenção

1- Pode nos falar sobre o andamento do ExpandTPT até o momento e como o projeto tem contribuído para o identificar e tratar as pessoas com infecção latente para tuberculose? E qual a importância desse tratamento?

A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo e, para eliminá-la como problema de saúde pública no mundo, a estratégia isolada mais eficaz é a prevenção de que aquelas pessoas que já estão infectadas não venham a adoecer, pois não adianta apenas tratar as pessoas que estão com a doença e a estão transmitindo. Para se ter uma ideia, no momento em que começamos a tratar essas pessoas, elas já transmitiram a infecção para pelo menos 10 indivíduos. E essas pessoas que estão infectadas, de cada 10, uma vai adoecer. Por isso, prevenir que pessoas que já foram infectadas adoeçam é importante. Essa é a forma, em termos de saúde pública, mais eficaz de reduzir a taxa de incidência. Quando você prescreve tratamento preventivo, além de evitar que a pessoa adoeça, evita também as complicações tardias da tuberculose. Vale lembrar que mais da metade das pessoas que têm tuberculose pulmonar ficam com algum tipo de sequela, como, por exemplo, cansaço, e desta forma, não conseguem realizar as atividades normais que faziam antes. Esta é a importância de prevenir o adoecimento!

2- Pela mídia social, foram observadas muitas chamadas para capacitação dos profissionais de saúde. A pesquisadora saberia o quantitativo de profissionais que foram capacitados até o momento?

Já capacitamos mais de 12 mil profissionais de saúde, incluindo Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Essa capacitação segue recomendações nacionais e sensibiliza também as pessoas sobre a importância do tratamento preventivo. Dentro do programa ExpandTPT, também estamos implementando uma ferramenta de vigilância, que é um livro de registro de contatos, o qual permite que os profissionais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) detectem quais são os gargalos na avaliação do contato que existem naquele local e, assim, consigam propor uma solução que seja customizada para aquela UBS. Esse instrumento foi utilizado em estudo anterior, junto com as capacitações, de forma muito eficaz; ou seja, essa é uma estratégia que estamos usando com base nas lições aprendidas. Já treinamos 500 pessoas nos municípios para usar esse livro e ensinar toda a equipe a usá-lo e agora estamos monitorando a sua utilização nas unidades de saúde. Além disso, uma terceira atividade foi iniciada, que é a capacitação para fazer a prova tuberculínica (PPD), atividade que precisou ser adiada por falta do insumo no País. Na semana passada, duas multiplicadoras certificadas do Ministério da Saúde certificaram, em São Paulo, multiplicadoras que capacitarão profissionais de saúde da ponta para a prova do tuberculínica. Cabe ressaltar que uma das pactuações com o Ministério da Saúde é esclarecer aos profissionais de saúde que, para fazer o PPD na rotina, não é necessária uma certificação; ela é necessária apenas para aqueles que vão multiplicar a realização. Ou seja, para fazê-la em serviço, o treinamento pode ser durante os atendimentos nos serviços de  saúde,  desde que monitorado  por  um profissional,   e não precisa ser treinado com 100 (cem) braços. O multiplicador, a pessoa que está treinando ou capacitando o profissional, consegue fazer isso. Esse é um aspecto importante, visto que vai fazer com que avancemos bastante. Tornar a prova tuberculínica mais acessível ao usuário do SUS,  é fundamental, pois ela desempenha um papel crucial como ferramenta de diagnóstico. No Brasil, menos de 30% das pessoas que tiveram contato com pessoas com tuberculose ou que estão vivendo com HIV se infectaram. Significa que nem todos precisam do tratamento preventivo, então a prova tuberculínica nos mostra quem se beneficia do tratamento preventivo e em quem não é necessário fazer o tratamento preventivo. Fazer a prova tuberculínica nos permite dizer se a pessoa precisa ou não do tratamento – a maioria, não vai precisar. O problema é que é minoria que precisa não está sendo sequer reconhecida e muito menos tratada, e isso é que desejamos mudar.

3- Foram produzidos materiais para esses profissionais? Quais? Como estão sendo distribuídos?

Além das capacitações, também produzimos materiais destinados aos profissionais de saúde, aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e aos usuários. Esses materiais estão disponíveis e podem ser acessados no site da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose REDE-TB (INSERIR O LINK). Além disso, eles também foram impressos e estão sendo distribuídos nos cinco municípios atendidos pelo projeto. Eles têm como público-alvo os agentes comunitários, bem como a população em geral. A produção foi uma parceria entre o Comitê Comunitário de Acompanhamento da Pesquisa ExpandTPT (CCAP/ExpandTPT), em consulta com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). O conteúdo é um compilado de sugestões que foram feitas pelos próprios usuários.

4- O objetivo principal da pesquisa é bem arrojado: expandir o tratamento preventivo da tuberculose entre contatos de pessoas que têm tuberculose. Quais parcerias a pesquisadora buscou para atingir os objetivos?

A parceria com o Ministério da Saúde é crucial nesse projeto por várias razões. Em primeiro lugar, porque ele usa novos recursos e propõe estratégias, como a capacitação para a realização do teste tuberculínico sem a exigência de 100 braços, que encontra muita resistência nos gestores municipais e estaduais. É fundamental o Ministério estar junto para que não se entenda que uma pesquisadora resolveu mudar as regras no Brasil. O Ministério da Saúde é mais do que parceiro, estamos implementando esses projetos juntos. A REDE-TB e o Ministério da Saúde têm participado das capacitações nas recomendações nacionais e para a prova tuberculínica, no âmbito nacional. Também fizemos visitas técnicas da REDE-TB e MS aos municípios, que foram muito produtivas para se esclarecer quais são as prioridades, e onde se pode flexibilizar as recomendações nacionais.  

5- Qual o impacto social e de saúde que o ExpandTPT espera alcançar?

O ExpandTPT pode resultar, se ele tiver êxito, na expansão do tratamento preventivo e, dessa maneira, ele vai proporcionar uma redução da taxa de incidência de tuberculose no Brasil e, em consequência, da taxa de mortalidade pela doença no País. O impacto em termos de saúde pública é esse e, claro, também há implicações sociais, uma vez que a tuberculose atinge principalmente as pessoas mais pobres e as pessoas atingidas, acometidas pela tuberculose, perdem a capacidade de produção de recursos.

6- Quais são os planos futuros (próximos passos) do ExpandTPT?

Quando tivermos os resultados da expansão do tratamento preventivo no Brasil, vamos fazer avaliações da aceitabilidade dessa nossa proposta entre os profissionais de saúde e o custo-efetividade. Também estamos avaliando, em cinco unidades de saúde do Rio de Janeiro, qual é a possibilidade de instalação e uso de um sistema “Computer-Aided Detection” (CAD), isto é, para detecção auxiliada por computador da tuberculose. Esse é um algoritmo de Inteligência Artificial (IA) que interpreta radiografias de tórax sem a necessidade de um radiologista para determinar se há ou não tuberculose. Este CAD, chamado OpenTB, foi desenvolvido pelo nosso grupo no Brasil e não será comercializado. Ele foi desenvolvido com recursos do governo brasileiro e, portanto, será disponibilizado para o Sistema Único de Saúde (SUS) como um retorno do investimento que o governo fez no nosso grupo. Estamos testando para possível implementação no futuro em larga escala, o que pode acelerar e aumentar o diagnóstico da tuberculose, bem como a avaliação do contato, para rapidamente excluir a doença e iniciar o tratamento.

7- A pesquisadora Dra. Anete Trajman gostaria de acrescentar algo mais?

Do ponto de vista social, além da TB afetar principalmente as populações mais pobres e vulneráveis, há também perda de recursos quando a pessoa contrai tuberculose. É uma mãe que não pode trabalhar como autônoma porque a criança está com tuberculose. É uma pessoa que está muito fraca para ir trabalhar, por exemplo. Perde-se renda e se gasta mais dinheiro. A pessoa que tem tuberculose, além de ter uma probabilidade maior de já ser mais pobre, empobrece mais ainda. A redução da incidência desta doença no País pode melhorar as condições sociais, principalmente nos bolsões de pobreza, como as favelas.

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