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HIV/Aids e Doenças Tropicais: Tema pouco falado embora presente na realidade brasileira

Publicação: 30 de novembro de 2022

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No Brasil, em 2021, cerca de 50 mil novos casos de HIV foram registrados. No mesmo período o número de casos de malária foi três vezes maior. Casos de zika crescerem 98% em um ano e de chikungunya quase 90%. Grande parte dos casos estão concentrados nas regiões Norte e Centro Oeste, embora haja registros em todo o país.

Embora os dois blocos de números falem da mesma população, as coinfecções envolvendo pessoas que vivem com HIV/Aids e doenças tropicais (dengue, malária, doença de chagas, leishmaniose etc.) são uma realidade pouco falada, mesmo em eventos científicos, apesar de o cruzamento destes dois pontos ser presente em regiões endêmicas do Brasil. Os estudos em andamento mostram ainda poucos casos levantados, mas a complexidade decorrente da coexistência desses agravos, tanto quanto à resposta fisiológica aos tratamentos, quanto no que diz respeito ao seguimento das pessoas, situações de vulnerabilidade e adesão aos tratamentos, serve de indicativo para ações futuras e alertas a gestores, profissionais de saúde e a toda a sociedade.

“Nas fichas de notificação de doenças tropicais consideradas negligenciadas, como a dengue e doença de chagas, por exemplo, não tem campo específico que indique se a pessoa acometida possui o diagnóstico da infecção pelo HIV”, explica a enfermeira, professora e pesquisadora Aline Monroe da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP (EERP-USP). Segundo ela, “a ausência de tal informação dificulta a obtenção de dados epidemiológicos que expressem e sistematizem a co-ocorrência do HIV e doenças tropicais, principalmente para fins de planejamento em saúde e qualificação da assistência prestada”.

Na prática, um dos pontos que restringem ainda esta identificação diz respeito ao fluxo de informação entre equipes de saúde, complementa a enfermeira, professora e pesquisadora Gabriela Magnabosco da Universidade Estadual de Maringá/Paraná.  Para ela, “se por um lado a legislação garante a privacidade da pessoa acometida, por exemplo com a publicação da chamada Lei do Sigilo (Lei 14289/2022), que garante o sigilo sorológico de pessoas com HIV, hepatites virais, tuberculose ou hanseníase, por outro, a sua interpretação equivocada pode restringir a perspectiva de um cuidado mais ampliado e em consonância com a situação de saúde de cada um.” Muitas vezes os serviços especializados não compartilham informações com as vigilâncias e outros serviços de saúde, e a obtenção da informação fica sob responsabilidade da equipe de saúde durante a avaliação individual dos casos, estando sujeita, somente à informação por parte da pessoa, o que pode prejudicar a implementação de protocolos terapêuticos, o monitoramento de possíveis toxicidades decorrentes da interação dos medicamentos utilizados, além da adesão e manutenção dos tratamentos”.

A enfermeira Jaqueline Ballestero, também da EERP-USP, reforça a atenção para a questão de possíveis efeitos colaterais que envolvem o uso simultâneo de medicamentos nos casos de coinfecção pelo HIV e determinadas doenças tropicais, podendo inclusive levar a uma queda da adesão. “Embora os casos se concentrem mais nas regiões endêmicas a realidade pode estar presente nas outras regiões e é preciso cuidado especial com gestantes, idosos e crianças e outros grupos de risco maior.”

As enfermeiras concordam que no caso de pessoas que vivem com HIV o tratamento realizado de forma regular e a carga viral indetectável são fundamentais na evolução clínica e terapêutica durante o manejo de doenças tropicais.

Para Jair Pinheiro, gerente de Doenças de Condições Crônicas e ISTs da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, a coinfecção do HIV com as doenças tropicais estão geralmente ligadas “a baixa imunidade das pessoas soropositivas, como o que acontece com a tuberculose e várias outras.” No caso do Amazonas a geografia peculiar, com concentração de mais da metade da população em Manaus, mostra que, em geral, a predominância de doenças tropicais se dá nas áreas rurais dos municípios, e as com características de grandes conglomerados urbanos como a TB, se concentram na capital.

Ele entende que atualmente as interações e efeitos colaterais são suficientemente conhecidos e incluídos em protocolos clínicos, que orientam a melhor conduta para que isto não atrapalhe a adesão aos medicamentos ARV. “ A melhor estratégia é manter a carga viral indetectável e  boa contagem de CD4,  assim diminui muito o risco de estar vulnerável para qualquer doença infecciosa”, completa.

Subdiagnosticada

Um dos painéis apresentados no Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical ( SBMT), que ocorreu em Belém (PA) nesta semana discutiu a coinfecção de HIV  e histoplasmose. A doença geralmente é adquirida pela inalação de partículas infectantes do fungo decorrente do manuseio do solo, frutas secas e cereais e nas árvores.

Segundo Monica Bay, professora assistente do Departamento de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, “todo o paciente que é portador do HIV com CD4 menor que 50 pode adquirir a histoplasmose, mas em geral não há investigação.”  A médica alerta que nestas condições a investigação para tuberculose, em geral, acaba ocorrendo, mas não avança para outras patologias. “Os fatores epidemiológicos são fundamentais no diagnóstico da doença e dão excelentes direcionamentos uma vez que a histoplasmose é passível de ser confundida com outras infecções como a tuberculose”, explica.  Ela também recomenda que mais inquéritos sorológicos se realizem para determinar a prevalência real desta infecção, já que a Histoplasmose relacionada ao HIV “ainda é amplamente subdiagnosticada.”

A doença é, em 50 a 75% dos casos, a primeira manifestação de aids para o portador de HIV. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, no período de 1980-2000, 0,7% dos pacientes com Aids e idade maior que 13 anos apresentavam histoplasmose disseminada no momento da sua notificação. O Ceará é o estado com maior número de casos reportados em pacientes soropositivos em todo território nacional, com uma mortalidade que chega a quase 30%

Fonte: https://agenciaaids.com.br/noticia/hiv-aids-e-doencas-tropicais-tema-pouco-falado-embora-presente-na-realidade-brasileira/

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