Manaus registra mais de 100 casos de tuberculose entre migrantes nos últimos quatro anos
Dados são de 2017 até agosto de 2020. Estudo feito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) monitora casos e busca soluções para o problema.
Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa) apontam que a capital amazonense registrou, desde 2017, 105 casos de tuberculose entre migrantes. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (22) e apontam ainda que a cidade registrou, no total, durante mesmo período, 2.296 casos da doença, somando habitantes e migrantes.
O maior número de casos da doença entre migrantes foi registrado em 2019. Segundo a Semsa, foram 37 casos. Em 2020, até o mês de agosto, outros 36 também foram registrados. Em 2018, 18 e em 2017, 14. No levantamento geral, 2019 também foi o ano em que teve o maior número de casos da doença incluindo não apenas migrantes. Ao todo, foram 2.347 notificações. A média anual é de 2.296.
Em 2018, o Amazonas chegou a liderar o ranking brasileiro em incidência da tuberculose, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS). Até março daquele ano, foram registrados 497 casos da doença em todo o estado, sendo que 370 das ocorrências foram apenas em Manaus.
Uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), monitora a situação dos casos entre migrantes na capital. O estudo intitulado “Tuberculose e migrantes nos países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul): o caso do Brasil”, conta com a participação do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e o apoio da Prefeitura de Manaus.
Para execução das ações, a cidade recebeu durante o mês de setembro uma equipe de especialistas da Ufes, que realizou entrevistas em locais que abrigam os indígenas venezuelanos da etnia warao, com o objetivo de entender a dinâmica de saúde nessa população. Na segunda-feira (21) foram iniciadas as ações para identificar pessoas com sintomas respiratórios, com a realização de exames para a detecção da doença. A previsão é que a pesquisa seja concluída no final de outubro.
“A população migrante é considerada uma população vulnerável à tuberculose devido ao processo de deslocamento nos territórios, quando passam por situações de estresse frequente, decorrente da escassez de alimentos, das dificuldades de comunicação, das condições habitacionais e laborais precárias, passando boa parte do tempo em aglomerados com pouca infraestrutura sanitária. Assim, fatores internos e externos podem conduzir a falhas do sistema imunológico”, explicou o chefe do Núcleo de Controle da Tuberculose, da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), em Manaus, enfermeiro Daniel Sacramento.
Ainda de acordo com o enfermeiro, a pesquisa foi organizada em três fases e está sendo executada também em Boa Vista (RR), São Paulo (SP) e Curitiba (PR).
“A terceira fase é a implementação de um estudo, para avaliar uma intervenção de cuidado relacionado à tuberculose em população migrante. A expectativa é que os resultados da pesquisa possam contribuir com a elaboração de políticas locais, nacionais e globais, que orientem a construção de planos de atenção à saúde, com ênfase na tuberculose, para populações migrantes”, informa Daniel.
O público-alvo da pesquisa é formado por qualquer pessoa estrangeira com 18 anos ou mais, que esteja residindo provisória ou permanentemente em Manaus e aceite participar da pesquisa. Os pesquisadores utilizam material gráfico para orientação em português, espanhol e warao, como forma de auxiliar no recrutamento dos migrantes para a pesquisa.
Diagnóstico e transmissão
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, causada pela microbactéria Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch (BK), que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e sistemas do corpo humano. O principal sintoma da tuberculose é a tosse. Por isso, recomenda-se que todo sintomático respiratório – pessoa com tosse por duas semanas ou mais – seja examinado.
Para o diagnóstico da doença são realizados exames, como, baciloscopia, teste rápido molecular para tuberculose e cultura para microbactéria, além da investigação complementar por exames de imagem.
A tuberculose é uma doença de transmissão aérea. Ao falar, espirrar e, principalmente, ao tossir, as pessoas com tuberculose ativa lançam no ar partículas em forma de aerossóis, que contêm bacilos, podendo transmitir a doença para outras pessoas. O tratamento é gratuito e disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS), com duração de, no mínimo, seis meses. Todos os pacientes que seguem o tratamento corretamente ficam curados.