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Série Especial DMCTB – Entrevista com Profa. Roseli Monteiro da Silva

Publicação: 26 de dezembro de 2018

A quarta entrevista da Série Especial do Dia Mundial do Combate à Tuberculose, a Professora Roseli Monteiro da Silva, da Área de Coordenação – Prospecção Tecnológica, fala sobre sugestões para o Plano Nacional de Eliminação da Tuberculose e o papel da Rede TB no combate à doença.

O Ministério da Saúde tem o Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como uma de suas metas. Este plano, além das ações usuais de controle de TB (Pilar 1), inova ao inserir a Proteção Social (PIlar 2) e a Pesquisa e Inovação (Pilar 3). Quais são as maiores dificuldades para que esse Plano possa ser bem sucedido? O que se deve fazer para que isso não ocorra?

O Plano Nacional de enfrentamento da Tuberculose tem um aspecto muito bom que é a construção de cenários atuais utilizando indicadores relevantes que consideram os determinantes sociais da doença, as vulnerabilidades específicas e a qualidade da atuação dos serviços de saúde. Com isto foram construídas oito situações diferentes, para as quais poderiam ser adotadas estratégias do mesmo modo distintas.

Tais indicadores foram muito interessantes pois, mesmo numa perspectiva macro, oferecem subsídios para formulação de planos adequados às diferenças regionais, com maior possibilidade de êxito na medida em que assume o desafio de enfrentar as distintas fragilidades e causalidades. Entretanto, seria de elevada relevância dentro do contexto de Eliminação de TB no país, projetar cenários futuros destas regiões caso nada seja feito ou o ritmo das intervenções permaneça constante e um outro cenário esperado como consequência da implementação dos novos planos regionais. 

Percebe-se que ainda não temos um plano completo de enfrentamento da tuberculose, mas um conjunto genérico de recomendações tradicionais e conhecidas. Torna-se crucial inovar nas intervenções, dar especificidade e atuar de forma cooperativa.

Por meio do Plano Nacional de Eliminação da TB proposto pelo Ministério da Saúde, precisamos de 9 planos (com ações concretas que expressem produtos e que sejam passíveis de monitoramento) sendo um para cada região e um nacional para questões estruturais que poderão impactar virtualmente qualquer situação.

Um exemplo: Se tivermos uma vacina, se todos os Programas de Saúde da Família diagnosticarem e tratarem TB com elevada efetividade, e se todos os comunicantes forem investigados e a TB latente realizada para aqueles elegíveis, se todos tiverem acesso ao diagnóstico molecular onde seus resultados promovam a tomada de decisão clínica de modo rápido (< 4 dias), etc. O Plano não pode ser contraditório ao diagnóstico e, portanto, aos distintos cenários encontrados.

Assim sugerimos:

  1. Que o conteúdo propositivo do plano primeiramente defina e priorize áreas de atuação (regiões);
  2. Que o plano descreva mais claramente as medidas indutivas que irá tomar por região a partir do diagnóstico e análise local, os recursos financeiros e de Recursos Humanos que pretende disponibilizar para o enfrentamento das fragilidades específicas, considerando de forma integrada os três pilares: Medidas sociais, melhoria dos serviços de saúde (modelo lógico do programa de TB) e linhas de pesquisa, especialmente aquelas de natureza operacional e local, de natureza quali/quanti, que possam explicar de forma mais específica a dinâmica da endemia local; O planejamento regional deve envolver pesquisadores em tuberculose que cubram as diferentes áreas do saber.
  3. Que o detalhamento do plano com recursos específicos a serem alocados e metas plurianuais sejam realizados em parcerias com os gestores locais, técnicos de estados e municípios e pesquisadores, por região;
  4. Que priorize algumas medidas nacionais que eventualmente possam ser comuns à todas às realidades descritas com destaque para: novas tecnologias para o enfrentamento da tuberculose, acesso ao diagnóstico molecular, infraestrutura para assistência descentralizada e tratamento da tuberculose latente; Que defina linhas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico em nível nacional com alocação específica de recursos.
  5. Que estabeleça metas ascendentes, por meio dos planos de intervenção regionais, de modo que somatório possa apontar para a meta nacional global de incidência e mortalidade até 2035.
  6. Que trabalhe no congresso nacional, os parlamentares destas regiões de modo a obter maior adesão, e com premiação local para os colaboradores.
  7. Criação de uma rede virtual de apoio ao Plano Nacional pelo fim da Tuberculose (envolvendo serviços de saúde/ responsáveis sanitários, agentes sociais e pesquisadores), uma parceria com a REDE- TB visando o diálogo, o apoio técnico e o monitoramento das ações do plano.
  8. Que o documento Brasil livre da Tuberculose seja assumido como um documento de diretrizes e que possamos elaborar planos regionais e nacional solicitando no orçamento federal já para o orçamento de 2018. (este é o momento – fase qualitativa).  Preparar para a defesa no congresso nacional.
  9. Compartilhar recursos financeiros e humanos com outras Secretarias do Ministério da Saúde e com outros Ministérios (Educação, Ciência Tecnologia e Inovação, Desenvolvimento Social, Justiça, Industria e Comércio)

O que pode a Rede TB pode realizar para engajar ainda mais a área acadêmica no combate a Tuberculose?

Participar de modo ativo em todas as etapas mencionadas. 

O que a senhora acha do papel da Rede TB no apoio dessa campanha e o que ela pode ajudar no Pilar 1, Pilar 2 e Pilar 3?

– Apoiar o monitoramento e a avaliação do Plano Nacional;

– Organizar redes específicas de pesquisa;

– Apoiar a cooperação técnica entre agentes sociais, serviços de saúde/responsáveis sanitários e universidades e institutos de pesquisa.

Analisando a lista de prioridades entre as 7 Plataformas de Pesquisa (ver abaixo) estabelecidas no “survey” conduzido pela Rede TB e PNCT-SVS-MS em 2016, há temas adicionais que considera fundamental ser contemplado para alcançarmos a meta de Eliminação da TB no Brasil, até 2035 ?

– Desenvolvimento de uma vacina contra a tuberculose em parceria com outros países (Podemos ter uma vacina em 10 anos?)

– Alternativas tecnológicas para abordagem terapêutica da tuberculose latente (pesquisa nacional sobre Tb latente)

– Alternativas terapêuticas envolvendo biologia sintética, genômica e biotecnologia (para TB ativa, TB MDR, TB-HIV e TB latente)

– Pesquisa operacional de natureza quali/quanti visando identificar determinantes específicos dos resultados em tuberculose e promoção de mudança cultural.

 

ROSELI MONTEIRO DA SILVA possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988) e Mestrado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) (1994). Tem longa experiência em Saúde Pública, gestão de programas e serviços de saúde tendo exercido cargo de Diretora de dois hospitais públicos federais (Hospital da Lagoa e Hospital Geral de Bonsucesso) e de Secretária de Saúde do Município de Mesquita, RJ. No período de 2010 a 2014, foi Diretora de Planejamento Estratégico da Fundação Oswaldo Cruz . Tem ampla experiência docente em diversos cursos de Pós graduação da ENSP e participa do Grupo de Pesquisa do CNPq &quot;Núcleo de Inteligência Competitiva&quot;, com foco em análise prospectiva e technology foresight. Atualmente é analista de C&T em saúde do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fiocruz.

 

Por Raphael Silva

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