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TUBERCULOSE À ESPREITA

Publicação: 11 de dezembro de 2023

A pandemia enfraqueceu o combate à doença no Brasil, que agora vive uma escalada preocupante de infecções


osué Costa sentiu, cerca de um ano atrás, que algo estava errado com seu corpo. Passou a acordar de madrugada com calafrios, que se estendiam pela manhã. A persistência do sintoma fez com que ele desconfiasse que não se tratava de uma gripe comum. Debilitado, certo dia não conseguiu levantar para trabalhar. Decidiu então procurar a médica que presta serviços à empresa onde ele trabalha como funcionário terceirizado, limpando resíduos hospitalares. A médica, ao ouvir o relato, pediu a ele que fizesse um exame de laboratório para averiguar se não se tratava de um caso de tuberculose. O resultado saiu no mesmo dia, positivo.

Naquele momento, Costa deu início a um extenuante tratamento que se arrastou por seis meses, com prescrição de antibióticos diários. Embora seja jovem – tem 36 anos –, passou por maus bocados. Sentia-se baqueado, incapaz de cumprir tarefas básicas do cotidiano. Emagreceu rapidamente. “Eu sempre pesei 54 kg, mas passei a ter uns 30 kg”, relembra.

No Brasil, a enorme maioria dos casos de tuberculose (cerca de 93%) resultam em cura. Não é uma estatística desprezível: considerando o total de doentes, isso equivale a mais de 4 mil mortes por ano. Quanto mais cresce o número total de casos, mais crescem as mortes, e o Brasil vive hoje uma escalada da doença. O fenômeno vem ocorrendo desde 2017. O número de novos infectados por tuberculose, que costumava ser de 70 mil por ano, subiu gradualmente e beirou os 80 mil em 2019. Houve um refluxo no primeiro ano de pandemia – provavelmente devido à subnotificação –, mas em seguida os números voltaram a crescer. Com um agravante: o índice de mortalidade aumentou depois da pandemia. Em 2021, 5 mil brasileiros morreram de tuberculose, uma taxa de 2,38 mortes por 100 mil habitantes. Tanto a taxa quanto o número absoluto são os maiores da década, segundo o Ministério da Saúde.

A explicação, acreditam os especialistas, está na pandemia, quando as pessoas se fecharam em casa e deixaram de ter acesso ao diagnóstico da doença, que então se espalhou com maior facilidade. O número de testes rápidos de tuberculose feitos pelo SUS caiu de um patamar de 40 mil por mês, entre janeiro e março de 2020, para cerca de 30 mil nos meses subsequentes, um reflexo da Covid que tinha acabado de paralisar o Brasil. Na mesma época, houve uma queda significativa no número de bebês vacinados com a BCG, imunizante que protege contra a bactéria da tuberculose (em 2021, a cobertura atingiu o menor nível em dez anos). 

“Como consequência, espera-se que ocorra mais transmissão comunitária da infecção e, consequentemente, um aumento no número de pessoas desenvolvendo TB [tuberculose] nos próximos anos”, prevê um relatório do Ministério da Saúde divulgado em março deste ano.

Outros países vivem um cenário semelhante. No começo de novembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório alertando para o aumento no número de casos de tuberculose no pós-pandemia, o que se atribui, em parte, à ampliação dos serviços de diagnóstico. Estima-se que 7,5 milhões de novos casos tenham sido registrados em todo o mundo no ano passado, o maior número da série histórica da OMS, iniciada em 1995.

A organização destaca treze países onde o número de casos caiu em 2020 ou em 2021, mas que lidam hoje com um aumento no número de diagnósticos. Entre eles, Índia, Vietnã, Congo, Gabão, Filipinas, Indonésia e Brasil.

Fonte: https://piaui.folha.uol.com.br/tuberculose-a-espreita-pandemia-ministerio-saude/

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