A TUBERCULOSE PODE SER AMEAÇA AINDA MAIOR PÓS PANDEMIA DA COVID-19
Por José Carlos Veloso A cada ano morrem pelo menos 1,5 milhão de pessoas em decorrência da tuberculose (TB) no mundo, é a doença infecciosa que mais mata. Associada ao HIV é ainda mais letal. É um problema de saúde pública tão grande, que existe um fundo mundial destinado a financiar ações de prevenção e cura […]
Por José Carlos Veloso
A cada ano morrem pelo menos 1,5 milhão de pessoas em decorrência da tuberculose (TB) no mundo, é a doença infecciosa que mais mata. Associada ao HIV é ainda mais letal. É um problema de saúde pública tão grande, que existe um fundo mundial destinado a financiar ações de prevenção e cura da tuberculose, Aids e malária, essa última com grande concentração no continente africano, responsável por 90% dos casos no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde – OMS, que também prevê atrasos no comprimento das metas de eliminação das doenças com o surgimento da pandemia do novo coronavírus.
Em várias partes do mundo, incluindo o Brasil em suas regiões mais distantes, muitas pessoas precisam viajar quilômetros e horas de suas moradias até uma unidade de saúde, com as barreiras de acesso criadas entre fronteiras e até mesmo entre estados e municípios, o acesso aos equipamentos de saúde para consultas, exames e retiradas de medicamentos ficaram prejudicadas. Um levantamento feito pela OMS e parceiros ao redor do mundo aponta que o impacto de ações que impossibilitam o deslocamento teve e tem um reflexo direto no tratamento da TB e do HIV. Estamos vivendo um momento no mínimo contraditório em que para evitar a propagação de uma doença corremos o risco de promover a propagação de outras. Assim é com a TB, pois se o indivíduo interrompe o tratamento, pode ter severas complicações de saúde, incluindo formação de bactérias – bacilo de Koch – causadoras da TB, ainda mais resistente para o tratamento básico de 6 meses. A situação é tão grave que a OMS relata que cerca de 80% dos programas de Aids e TB no mundo apontam interrupções de tratamentos, ou seja, a depender do local no mundo, as pessoas podem não morrer em decorrência da Covid-19, mas têm grandes chances de morrer de TB, Aids ou malária e, é claro, isso nas regiões mais pobres do planeta.
Puxando a conversa pro nosso lado (Brasil), ainda não temos bem claro qual o tamanho do impacto a pandemia da Covid-19 está causando no acesso ao diagnóstico e tratamento da TB e do HIV. Ainda que tenhamos o Sistema Único de Saúde – SUS, o que nos deixa a frente de muitos outros países no acesso universal a saúde, temos também uma política cotidiana de desmonte do SUS e outras políticas socioassistenciais que atravessam as esferas municipais, estaduais e federal. Aqui podemos evitar que tudo isso aconteça, por isso devemos ser ágeis na cobrança (advocacy) exigindo a revogação da EC 95 que congelou o repasse de financiamento do governo federal para os municípios na área da saúde e outras providências no campo da assistência social, onde é urgente um diálogo entre saúde e assistência social com o objetivo de fortalecer o proteção social às pessoas em tratamento de TB e pessoas vivendo com HIV/Aids.