Administração superior e pesquisadores discutem patentes já concedidas à UFC em rodada de inovação no CONSUNI
Um dos inventores recebidos foi o Prof. José Antônio Delfino, do CCA, que apresentou a patente de um sistema de aeração com redução de perdas para o transporte de aves.
Para compartilhar informações e conhecer de maneira focalizada os resultados mais recentes da política institucional de inovação na Universidade Federal do Ceará, a administração superior realizou uma rodada de debates na última segunda-feira (21), na sala do Conselho Universitário (CONSUNI), na Reitoria. O momento foi conduzido pelo reitor Cândido Albuquerque e contou com a presença do vice-reitor, Prof. Glauco Lobo, e de equipes da Pró-Reitoria de Relações Internacionais e Desenvolvimento Institucional (PROINTER), da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG), da Coordenadoria de Inovação Tecnológica (CIT – UFC Inova) e do Parque Tecnológico da UFC (PARTEC), além dos docentes e pesquisadores que detêm as cartas patentes já obtidas na Instituição.
O principal objetivo do encontro foi socializar o status atualizado das invenções, em pitches (apresentações curtas) feitos pelos titulares aos demais presentes, tirar dúvidas sobre ações que visem à viabilidade comercial e ampliar coletivamente as parcerias no radar, por meio da definição dos próximos encaminhamentos.
RODADA DE INVENTOS – Quem abriu a série de apresentações foi o Prof. Benildo Cavada, docente do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, no Centro de Ciências. Sua exposição versou sobre a patente da proteína recombinante de Mycobacterium sp. para uso em testes imunodiagnósticos e vacinas contra a tuberculose, fruto de iniciativa pioneira de um banco de genes para minerar novos genomas e proteínas.
“Descobrimos que nossa proteína é passível de cruzamento com o genoma da tuberculose. Depois de obtido o gene, isolamos ele a partir de culturas obtidas com pacientes tuberculosos. Purificamos a proteína e conseguimos obter anticorpos monoclonais (proteínas produzidas em laboratório que funcionam como remédios de origem biológica). Serão vários usos, que já geraram uma carta patente e três depósitos”, relatou sobre a descoberta.
A seguir, o Prof. Murilo Luna, do Departamento de Engenharia Química (Centro de Tecnologia), apresentou três patentes: 1) sistema de transporte e armazenamento de gás natural adsorvido; 2) processo de obtenção de biolubrificante de alto valor agregado a partir de óleo vegetal e 3) processo de produção de biolubrificantes com catalisador híbrido multifuncional à base de estanho e nióbio. Com referência às duas primeiras, ele representou os colegas de departamento Célio Loureiro e Diana Azevedo, impossibilitados de comparecer. As três patentes têm titularidade compartilhada com a PETROBRAS.
“No caso dos biolubrificantes, eles podem usar óleos base como soja, algodão ou mamona para a formulação de produtos de alto valor agregado. Tradicionalmente a PETROBRAS comercializa derivados do petróleo, mas as últimas duas patentes mencionadas envolvem produtos derivados de matéria prima renovável, que esperamos que volte a ser um foco de interesse da empresa”, contou o docente sobre os desafios mais recentes das tecnologias apresentadas.
A terceira apresentação foi conduzida pelo Prof. Jeová Siebra, do Departamento de Clínica Odontológica, na Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE). Trata-se da patente de um aplicador robótico de anestésico odontológico, ferramenta que reduz a dor e facilita o processo de anestesia, um dos principais problemas enfrentados por crianças e pacientes com odontofobia.
“Quase todo mundo já teve um estado de ansiedade por causa de uma experiência odontológica ruim. Sou odontopediatra e, com esse instrumento, colocamos as características de uma anestesia indolor em um equipamento robótico. Ele está na fase de protótipo funcional, precisando ainda passar por um processo de miniaturização do design, que demanda novos investimentos”, explicou o inventor, acrescentando que por meio de atributos como vibração de tecidos e controle/penetração automática da agulha oculta, as experiências dos pacientes têm sido muito melhores em consultório. As possibilidades de ampliação da tecnologia são várias, incluindo aplicações nas áreas médica e veterinária.
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O quarto apresentador, que participou remotamente, foi o Prof. Paulo Cortez, do Departamento de Engenharia de Teleinformática, no CT. Coordenador do Laboratório de Engenharia de Sistemas de Computação (UFC), ele falou sobre a patente do método de inicialização automática de contornos ativos aplicados à segmentação pulmonar de imagens tomográficas. Em resumo, o invento possibilita a análise automática de exames de imagens do tórax, quantificando e organizando os resultados para auxiliar no diagnóstico médico. Auxílio valioso no tratamento de quadros como a covid-19, por exemplo. “Qualquer médico sabe a importância de se segmentar e quantificar a análise de imagens. A clientela em potencial são centros de diagnóstico por imagem, clínicas e hospitais que realizam tomografia computadorizada do tórax”, disse o titular do invento.
Fechando o primeiro bloco de pitches, a doutoranda Louhana Rebouças representou a Profª Nágila Maria Ricardo, do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica do Centro de Ciências, na apresentação das patentes a seguir: 1) nanoparticulas lipídicas magnéticas à base de cera de carnaúba para aplicação em hipertermia e imagens por ressonância magnética; 2) nanocosmético antioxidante e fotoprotetor à base de cera de carnaúba e quercetina; e 3) supositório nanoestruturado para terapia em carcinoma colorretal.
“Os problemas relacionados aos efeitos colaterais da quimioterapia, com danos inclusive a órgãos saudáveis, são amplamente conhecidos. As nanopartículas magnéticas, quando expostas a um ímã, podem potencializar o tratamento e reduzir os efeitos agressivos de medicamentos quimioterápicos. Já o nanocomposto teranóstico pode ser usado como contraste em exames”, disse a doutoranda, citando a cera de carnaúba como um biomaterial de grande valia para a nanotecnologia, já no radar das indústrias farmacêutica e de cosméticos.
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BLOCO DOIS – O bloco seguinte foi aberto pelo Prof. Flávio Gonçalves, do Departamento de Engenharia Agrícola, no Centro de Ciências Agrárias. Ele representou o ex-colega Daniel Albiero (hoje vinculado à Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP) na apresentação de oito patentes: 1) colhedora multifuncional de forragem para multiculturas; 2) sistema mecanizado para implantação de cercas agropecuárias; 3) colhedora multifuncional de hortículas herbáceas, bulbos e tubérculos; 4) reator solar para conversão de biomassas residuais em energia; 5) fatiadora de cactáceas forrageiras nativas e cultivadas; 6) colhedora automatizada para palhas de palmeiras; 7) semeadora puncionadora multifuncional para multiculturas e 8) auxílio mecânico semirrobótico para colheita em ramas rasteiras.
“Desenvolvidas no âmbito do Grupo de Pesquisas em Energia e Máquinas para a Agricultura do Semiárido (GEMASA), os ganhos dessas patentes vão desde agilizar o trabalho do produtor, diminuir a necessidade de mão de obra, redução de custos e aumento de produtividade, conforme as necessidades da atividade a ser executada ou da cultura a ser plantada”, esclareceu o pesquisador.
Foi ouvida a seguir a Profª Tamara Araújo, do Departamento de Farmácia, que demonstrou a patente de esfoliante e clareador à base de cera de carnaúba e ácido kójico, produto para uso cosmético e dermatológico. “O produto atua por meio de micropartículas com ação clareadora de manchas e esfoliadora da pele, retirando as células mortas e tratando por meio de um ácido que age na última camada dérmica. Os ensaios foram excelentes e agora precisamos levar o produto para escala industrial”, contou a inventora, fazendo menção também ao desenvolvimento de um primeiro sabonete líquido orgânico, natural e vegano com as mesmas microesferas.
Na sequência, a Profª Sueli Rodrigues, do Departamento de Engenharia de Alimentos, também no CCA, falou sobre a patente do processo de produção de néctar probiótico de frutas. Com titularidade compartilhada com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), trata-se de um néctar contendo lactobacilos obtido a partir dos sucos de múltiplas frutas, como laranja, cupuaçu, açaí, siriguela, cacau, dentre outras. “Há grande potencial de uso pela indústria de alimentos. São microorganismos vivos benéficos para as funções intestinais. O que mais se assemelha em nosso mercado é o leite fermentado, então esse néctar a partir do suco é mais inclusivo para pessoas com intolerância. Só encontramos equivalentes do produto no exterior”, salientou a professora.
Do mesmo departamento, a seguinte a falar foi a Profª Lucicleia Barros, que apresentou as patentes da bebida funcional à base de água de coco e chá de hibisco e do revestimento à base de concentrado proteico de soro de leite e óleo de erva doce para conservação de frutas pós-colheita. “Com grande potencial para a saúde e a nutrição, a bebida funcional tem um público-alvo em ascendência por matérias-primas de alto valor nutricional. Já o revestimento, pode dar uma sobrevida em conservação a frutas colhidas de até 15 dias a mais, uma oportunidade que beneficiaria nossa indústria”, apontou.
Indo para o CT novamente, foi a vez do Prof. Augusto Albuquerque, docente do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil e pró-reitor de Relações Internacionais e Desenvolvimento Institucional, que apresentou a patente disposição construtiva introduzida em defensa urbana, uma proposta reduzida e segura de defensa acoplada em postes de iluminação. “Tivemos participação de pesquisadores de Engenharia Civil e Design, e os ensaios chegaram a resultados muito positivos, com segurança e dissipação de energia. Já está em condição altíssima de produção do protótipo”, informou o detentor da tecnologia.
O Prof. José Antônio Delfino, do Departamento de Engenharia Agrícola do CCA, prosseguiu com a rodada de apresentações, falando sobre a patente de um sistema de aeração para o transporte de aves. “O invento teve como objetivo a redução de perdas no transporte de cargas vivas. A taxa de mortalidade é muito grande, principalmente em locais quentes e em certos horários do dia. Propusemos um sistema acoplado às caixas de transporte que ajuda a direcionar o vento”, afirmou o titular, ressaltando que as caixas foram impressas em escala reduzida, utilizando coletores de vento para direcionar a ventilação para pontos estratégicos.
Por fim, a Profª Tatiana Lemos, da UFMA, representou a Profª Maria do Carmo Rodrigues, do Departamento de Engenharia de Alimentos (CCA), na exposição sobre a patente molho agridoce à base de frutas e hortaliças não convencionais (como caruru-azedo, quiabo-roxo, ora-pro-nobis, carambola e sapoti, para citar alguns exemplos). “A preparação tem como matéria-prima plantas exóticas, silvestres e espontâneas, com cultivo ou processamento incomuns. Na formulação do molho, não é adicionado sal (cloreto de sódio) nem conservante. A ausência do sal colabora para a redução de sódio no produto”, explicou a coautora.
BALANÇO – Para o pró-reitor Augusto Albuquerque, durante o encontro ficou muito claro que “a UFC tem várias vertentes de atuação inovadora, contemplando múltiplas vocações com potencial para impulsionamento e parcerias”. O coordenador de Empreendedorismo da PROINTER, Prof. Abraão Saraiva, corroborou a impressão, dizendo aos pesquisadores presentes que “as cartas patentes que já estão em mãos são ativos muito fortes”. “Agora é preciso jogar o jogo da inovação, entender como transferir tecnologia e chegar à etapa de produto ou negócio”, orientou. A coordenadora da UFC Inova, Carolina Matos, fez considerações semelhantes: “O principal motor disso são vocês inventores. Se vocês não se interessarem, ninguém transfere nada”.
O Prof. Cândido Albuquerque parabenizou as equipes envolvidas com a concessão do alto número de cartas patentes em benefício de pesquisadores da casa e da própria Universidade (30 expedidas até agora, sendo a última uma conquista do dia 31 de maio). Ele disse ver aplicações que perpassam praticamente todas as áreas de atuação da Instituição e um amplo espectro de parcerias e apoios, no aguardo de profissionalização e prospecção. “O grande desafio agora é como refinar esses conhecimentos em produtos, transformando-os, como costumo dizer de maneira simplista, em nota fiscal, em um ativo econômico para os pesquisadores e para a UFC. É o que desejamos e é por isso que trabalhamos”, sintetizou o reitor.