
Brasil faz 1º censo de vacinas em 14 anos de olho no combate à Covid-19
Entre as principais preocupações estão a queda na busca de imunizantes, a falta de cadastro único e o esquecimento de ameaças como sarampo e poliomelite
RIO — O Brasil espera ansiosamente em 2021 a chegada de vacinas para conter a pandemia do novo coronavírus. Mas o ano começa com um acerto de contas com outras e antigas doenças. Neste mês, pesquisadores do primeiro censo de vacinas no país em 14 anos vão bater à porta de famílias de Norte a Sul para descobrir a quantas anda a nossa vacinação.
Expectativa: Vacinas de Oxford devem chegar ao Brasil ainda este mês, mas seu uso ainda não foi autorizado pela Anvisa
Mesmo tendo um dos melhores programas de imunização do mundo, o país tem visto a cobertura vacinal cair drasticamente. Metade das 15 vacinas do calendário infantil não alcança a meta desde 2015, inclusive a da poliomielite. Com o resultado desse censo, poderão ser traçadas estratégias para reverter uma tragédia que levou ao retorno do sarampo.
A epidemiologista Carla Domingues, que por oito anos (de 2011 a 2019) esteve à frente do Programa Nacional de Imunizações (PNI), agora coordena, sob encomenda do Ministério da Saúde, com o professor José Cassio de Moraes, este novo Inquérito de Cobertura Vacinal.
Covid-19:Saiba como turbinar e melhorar a proteção da sua máscara
A seguir, a epidemiologista dá detalhes do projeto:
Três mil crianças
“O inquérito vacinal é como um censo. Além de avaliar as coberturas, vai buscar informações sobre os motivos da não vacinação. O trabalho será feito numa primeira etapa com 3 mil crianças das capitais brasileiras. A opção foi por nascidos em 2017, pois esse período abarca todo o calendário vacinal infantil, que deve ser concluído aos 2 anos de idade. O critério de seleção das famílias será censitário, com sorteio de endereços.”PUBLICIDADE
Vacinação no Brasil
“O último inquérito foi realizado em 2007. O Brasil só tem estimativas e precisa urgentemente de dados reais e atualizados porque isso impacta na estratégia de cobertura. A gente não sabe de fato quantas pessoas são vacinadas no país.”
Leia mais: Pacientes de Covid-19 que seguem sem olfato preocupam por aspectos psicológicos e nutricionais
Dados confusos
“Há muita confusão. Uma pessoa que tenha se mudado e se revacinado pode contar como dois indivíduos. Se ela perde a caderneta, tem que ser revacinada. Temos municípios com 300% de cobertura para algumas vacinas, o que sabemos que não pode ser verdade.”
Cadastro único
“Até hoje o Brasil não tem um cadastro nominal único em todo o território. Além disso, 3% das salas de vacinação ainda não são informatizadas. Um cadastro completo trará imenso benefício e vai mostrar onde está a população não vacinada.”
Vacina de Oxford: Saiba tudo sobre a maior aposta do governo federal
Queda da cobertura
“A cobertura de todas as vacinas caiu nos últimos quatro anos, inclusive a BCG, que protege contra a tuberculose e é aplicada ainda na maternidade. Isso impressiona muito. O inquérito busca responder o porquê. Temos hipóteses, que atuam juntas. Há problemas de acesso, distribuição e convicção.”