Publicação: 17 de maio de 2022
Tratamento mais curto e efetivo será recomendado para a forma resistente da doença
Médicos Sem Fronteiras (MSF) está satisfeita que, após compartilhar os resultados do TB-PRACTECAL, nosso ensaio clínico que encontrou um novo regime de tratamento oral mais seguro e eficaz de seis meses para a tuberculose multirresistente a medicamentos (TB-MDR), a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que atualizará suas diretrizes sobre o tratamento global da doença.
Após os resultados do ensaio de MSF, agora a OMS recomenda o uso programático do regime BPaLM de 6 meses – compreendendo bedaquilina, pretomanida, linezolida (600 mg) e moxifloxacina, em pacientes com tuberculose multirresistente em vez de regimes existentes mais longos. A OMS também recomenda outro tratamento mais curto, a combinação de bedaquilina, pretomanida e linezolida, em pacientes com maior resistência a medicamentos, uma vez que ambos os regimes mostraram alto sucesso no tratamento.
TB-PRACTECAL é o primeiro ensaio clínico controlado, aleatório e multinacional sobre eficácia e segurança de um regime totalmente oral de seis meses para tuberculose multirresistente a medicamentos. A pesquisa incluiu 552 pacientes em sete locais em Belarus, África do Sul e Uzbequistão. O ensaio clínico de fase II/III descobriu que o novo regime de tratamento mais curto foi muito eficaz contra a tuberculose multirresistente; 89% dos pacientes no grupo BPaLM foram curados, em comparação com 52% no grupo de tratamento padrão.
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“Antes que o ensaio me desse esperança, eu não conseguia nem ver o menor sinal de recuperação da tuberculose multirresistente a medicamentos”, completa.
Embora este novo regime forneça novas esperanças para as 500 mil pessoas que adoecem a cada ano com esta forma da doença, o preço global mais baixo atual para um curso desse tratamento de seis meses é de US$ 800 (aproximadamente 4.021 reais). Isso ainda é muito alto e pode retardar a adoção do novo regime em países com alta incidência da doença.
“Os resultados inovadores do TB-PRACTECAL constataram que um regime de seis meses de bedaquilina, pretomanid, linezolida e moxifloxacina (BPaLM) era mais eficaz e mais seguro do que o padrão de cuidados para pessoas afetadas com formas resistentes a medicamentos de TB, mas só veremos mudanças significativas se o tratamento for acessível”, afirma Christophe Perrin, relações institucionais para TB na Campanha de Acesso a medicamentos de MSF.
O medicamento Pretomanid – que foi desenvolvido pela TB Alliance e Viatris (anteriormente Mylan) com a ajuda de financiamento público – custa US$ 336 (cerca de 1.689 reais), por seis meses de tratamento. Além disso, um dos outros novos medicamentos contra a tuberculose, a bedaquilina – (fabricada pela Johnson & Johnson) tem um preço de US$ 270 (aproximadamente 1.357 reais) para o mesmo período de tempo.
Esses dois medicamentos, juntos, representam 3/4 do preço do tratamento completo, apesar de o fato de que pesquisadores da Universidade de Liverpool estimaram que versões genéricas de pretomanida e bedaquilina poderiam ser produzidas e vendidas com lucro por menos de US$ 210 (cerca de 1.055 reais) e menos de US$ 102 (cerca de 512 reais), respectivamente, ambos por seis meses.
“Tendo em conta os significativos fundos públicos que ajudaram a pagar pelo desenvolvimento de pretomanid e bedaquilina, esses medicamentos devem ser acessíveis a todas as pessoas que necessitem. Apelamos a TB Alliance, Viatris e Johnson & Johnson para que diminuam o preço da pretomanida e da bedaquilina para garantir que o valor de um curso completo de tratamento de TB-MDR não seja superior a US$ 500 (aproximadamente 2.513 reais) por pessoa. O preço nunca deve ser uma barreira para acessar um tratamento que salva vidas”, completa Perrin.