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Escudo protetor: Pessoas expostas ao coronavírus que não adoeceram inspiram novo estudo

Com o contato próximo e a convivência prolongada, pesquisadores querem desvendar qual mecanismo, possivelmente em genes do sistema imunológico, seria capaz de barrar a doença.

BRASÍLIA — Abraçar, beijar na boca, fazer sexo e dormir junto: atitudes comuns entre casais têm desafiado a ciência a entender como e por que, em alguns casos, só um dos parceiros se infecta com o coronavírus. Com o contato próximo e a convivência prolongada, pesquisadores querem desvendar qual mecanismo, possivelmente em genes do sistema imunológico, seria capaz de barrar a doença. É a chamada resistência inata à Covid-19, que pode fornecer caminhos para pesquisa e desenvolvimento de medicamentos que impeçam o contágio.

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Um desses casos em potencial é o do casal Paulo Linhares, de 56 anos, e Sandra Matos, 45, ambos do Rio. O diretor de implantação de redes de telecomunicação, que só havia tomado a primeira dose da vacina à época, conta que sentiu fadiga e dores de cabeça e no corpo no fim de maio — sintomas que atribuía a uma gripe mais forte e a uma possível intoxicação alimentar antes do diagnóstico.

— Quando fiz a tomografia do pulmão, estava 25% comprometido. Minha mulher e meu filho fizeram PCR e não deu nada. O que me deixou mais intrigado foi que eu comecei a fazer uma relação dos clientes com quem estive (durante os sintomas, para avisá-los), e ninguém foi diagnosticado ou pelo menos não teve sintomas — conta Linhares. — Não me lembro de ter encontrado alguém que teve Covid e peguei. Já minha esposa, que todos os dias me beijou na boca e dormiu comigo, não se infectou.

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História semelhante viveu o casal de estudantes de direito Willian Azevedo e Eunice Xavier, ambos com 22 anos. O jovem teve um quadro moderado de Covid-19, sentiu falta de ar e precisou ser hospitalizado ainda em julho, dias antes de ser elegível para a vacina. Já a namorada dele, mesmo em contato próximo e quase diário, não desenvolveu sintomas e teve resultado negativo do RT-PCR.

— Ficamos juntos no sábado, no domingo e nos vimos durante a semana Na quarta, quando começaram os sintomas dele, a gente se abraçou, se beijou, dirigi o carro dele… Quando saiu o (resultado) positivo dele e o meu negativo, a gente foi direto ao hospital. Ele tomou medicação e eu fiquei em observação. Por orientação médica, me isolei em casa para ver se iria desenvolver algum sintoma e não tive nada — relembra Eunice.

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Não há estatísticas que estimem a ocorrência dos chamados casais discordantes, mas o fenômeno pode contribuir para o avanço do que já se sabe da prevenção e do tratamento à doença. Um estudo, capitaneado pelo consórcio internacional COVID Human Genetic Effort, busca identificar quais mecanismos desencadeariam quadros graves em pessoas sem comorbidades, por exemplo. O grupo reúne cerca de cem laboratórios ao redor do mundo.

— Não temos tratamento específico para o vírus. Uma das formas de encontrá-lo é entender que mecanismos permitem que ele entre e se replique mais facilmente no organismo e em que situações o corpo impede a infecção — descreve a imunologista e professora de Medicina Translacional do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, Carolina Prando, que participa da iniciativa.

Publicado na revista científica Nature, o artigo “A global effort to dissect the human genetic basis of resistance to SARS-CoV-2 infection” (em tradução livre, “Um esforço global para dissecar a base genética humana da resistência à infecção por SARS-CoV-2”) dá o pontapé inicial da investigação, que se estenderá durante os próximos meses.

Fonte: https://oglobo.globo.com/saude/escudo-protetor-pessoas-expostas-ao-coronavirus-que-nao-adoeceram-inspiram-novo-estudo-1-25263258