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Estudo avalia impacto da crise econômica no Brasil em 2014 nos casos de tuberculose atuais

No ano de 2019, a incidência de tuberculose no Brasil estava estimada em 46 casos para cada 100.000 habitantes.

Tanto a incidência, quanto a mortalidade por tuberculose diminuíram nas últimas duas décadas no Brasil, o que está ligado à melhoria de condições de moradia, a um sistema de saúde com Atenção Primária (APS) mais forte e a um controle mais efetivo da tuberculose. No entanto, essa tendência se inverteu entre 2016 e 2019, com aumento das notificações de tuberculose em até 7%. Entre os fatores que podem ter contribuído para isso está a recessão econômica iniciada em 2014, com repercussões na deterioração de condições sociais e de saúde, com piora da resposta imunológica ao contágio e à progressão da doença.

Métodos

Utilizando o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), um grupo internacional de pesquisadores realizou um estudo visando estimar o número de casos de tuberculose em excesso no período da recessão econômica, bem como avaliar possíveis causas para esse aumento. Para isso, estimaram as tendências da incidência da doença no período “pré-recessão”, entre 2010 e 2014, estratificando por sexo, faixa etária e estado. O número de casos “em excesso”, entre 2015 e 2019, foi então calculado pela diferença entre as notificações realizadas e o número esperado de casos se as tendências do período anterior à recessão se mantivessem. Utilizando modelos de regressão, examinaram também a relação entre o aumento de casos e algumas de suas possíveis causas.

Resultados

estudo apontou um excesso de 22.900 casos no período (IC 95% 18.100 – 27.500), sendo que em 2019 o número de notificações esteve 12% acima do que seria previsto pelas tendências históricas. Analisando a estratificação dos resultados, destacou-se a grande representatividade dos casos em excesso de tuberculose entre homens jovens (20 a 29 anos), com 54% do total e com um aumento de 30% com relação ao esperado para esse grupo. Somados ao grupo de homens entre 30 a 39 anos, o grupo passou a representar 70,6% do total de casos em excesso.

Outro resultado notável foi a relação encontrada entre o excesso de casos e o aumento proporcional de casos entre indivíduos encarcerados (p = 0,001) e em grupos com maiores índices de desemprego (p = 0,04).

Discussão

Muitos dos resultados apresentados pelo artigo são consistentes com evidências de estudos anteriores que sugerem que os fardos de crises econômicas podem ser sentidos mais fortemente por homens e por jovens trabalhadores. O aumento da tuberculose na população prisional também é bem documentada por trabalhos brasileiros e latino-americanos, o que parece também ser reforçado pelos resultados do artigo. Os pesquisadores inclusive sugerem que essa tendência relacionada às prisões podem já estar influenciando as comunidades próximas e causando impactos mensuráveis a nível nacional.

Fonte: https://pebmed.com.br/estudo-avalia-impacto-da-crise-economica-no-brasil-em-2014-nos-casos-de-tuberculose-atuais/