Publicação: 2 de dezembro de 2020
A publicação da notícia da morte do cidadão em situação de rua, Carlos Eduardo Pires de Magalhães, de 40 anos, que tinha tuberculose em estágio bastante avançado escancara a situação de fragilidade dos sistemas de saúde e de assistência social atualmente em nosso país. Carlos Eduardo veio a óbito num episódio público de hemoptise maciça, […]
A publicação da notícia da morte do cidadão em situação de rua, Carlos Eduardo Pires de Magalhães, de 40 anos, que tinha tuberculose em estágio bastante avançado escancara a situação de fragilidade dos sistemas de saúde e de assistência social atualmente em nosso país.
Carlos Eduardo veio a óbito num episódio público de hemoptise maciça, num bairro de alta renda no Rio de Janeiro.
A invisibilidade e a desassistência das populações mais vulneráveis para a tuberculose só têm se agravado nos últimos anos. Neste momento, a Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (REDE-TB) conclama gestores, sociedade civil e profissionais da saúde e da assistência social a mobilizar-se para o resgate das condições necessárias ao cuidado digno e responsável na Atenção Básica.
É preciso discutir com franqueza a atual condição dos sistemas de saúde, atenção e proteção social quando a situação econômica do nosso país tem se agravado, particularmente em meio à séria crise do coronavírus no Brasil, cujo enfrentamento tem sido hesitante e por vezes contraditório desde o início em nosso país.
As medidas de atenção e proteção urgem, particularmente para as populações mais vulneráveis. Soluções mornas e burocráticas não trarão qualquer modificação a esse quadro.
A imprensa recentemente já anunciou que “o Brasil não deve alcançar as metas globais de redução de casos e mortes pela doença” pela fraca resposta brasileira ao enfrentamento da tuberculose nos últimos anos, quando não temos atingido os compromissos globais assumidos pelo país (veja https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/10/14/brasil-nao-devealcancar-meta-de-reducao-de-casos-e-mortes-por-tuberculose-diz-oms.ghtml).
Os efeitos da pandemia irão agravar fortemente o problema. O desafio da assistência à população em situação de rua, assim como a todas as populações mais vulneráveis é um problema de todos.
A profunda desigualdade social no Brasil acentua a diferença no acesso ao tratamento e assistência. A tuberculose é um problema de saúde pública de grande magnitude há décadas no Brasil.
Classificada como doença negligenciada, faz parte da lista daquelas que mereceram um investimento prioritário no tocante aos programas de atenção, tratamento e assistência.
O investimento em pesquisa de novos fármacos, diagnósticos, vacinas e tratamento precisa ser ampliado. A REDE-TB lamenta que sejam necessários episódios tétricos em região de alta renda para despertar a comoção e o desconforto da sociedade brasileira.
Conclamamos o poder público nas diferentes esferas de governo, a tratar com a merecida urgência e compromisso o enfrentamento à tuberculose, particularmente para as populações que vêm empobrecendo e àquelas em situação de vulnerabilidade extrema.
Exigimos o cumprimento dos preceitos constitucionais de acesso universal à saúde e à assistência no Brasil, o fortalecimento do SUS, SUAS e dos programas de proteção social que vêm sendo esvaziados e desmontados no momento em que o país mais precisa. Devemos transformar a indignação em ação enérgica para transformarmos a sociedade.
