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Regimes orais de curta duração para o tratamento de tuberculose resistente

A tuberculose atualmente é um grande problema de saúde pública devido ao frequente aumento de casos de tuberculose resistente às drogas de primeira linha.

Estima-se que, anualmente, cerca de 500.000 pessoas desenvolvam tuberculose resistente à, pelo menos, rifampicina. Essa condição demanda tratamentos prolongados (de 9 a 20 meses), com resultados de eficácia reduzida. Em 2022, somente 60% dos casos de tuberculose resistente à rifampicina (TB-RR) que haviam iniciado tratamento foram notificados como tendo sucesso terapêutico.

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Na busca por regimes alternativos para TB-RR, o TB-PRACTECAL foi um estudo que avaliou 3 esquemas orais por 24 semanas para tratamento de TB-RR. As fases iniciais indicaram a combinação de bedaquilina, linezolida, pretomanide e moxifloxacino (BPaLM) como o melhor candidato. O estudo foi interrompido precocemente em 2022 por eficácia e a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a recomendar essa combinação como o esquema preferencial para TB-RR sem resistência concomitante a fluoroquinolonas, e bedaquilina, linezolida e pretomanide (BPaL) para os casos em que há resistência adicional a fluoroquinolonas.

Apesar do término antecipado do recrutamento, os participantes incluídos foram acompanhados por pelo menos 72 semanas a partir da randomização. Os resultados finais, incluindo os dados desse seguimento, em relação à eficácia e segurança do esquema de BPaLM por 24 semanas comparado com tratamento padrão, foram apresentados em publicação na The Lancet Respiratory Medicine.

TB-PRACTECAL

O TB-PRACTECAL foi um estudo de não inferioridade aberto, randomizado, controlado com múltiplos braços e multicêntrico, conduzido em sete centros hospitalares e comunitários em 3 países.

Eram elegíveis indivíduos com 15 anos ou mais com diagnóstico de tuberculose pulmonar com resistência à rifampicina confirmada por técnica molecular ou teste de suscetibilidade baseado em cultura, independente da suscetibilidade à fluoroquinolona, status de infecção pelo HIV ou contagem de linfócitos CD4. Gestantes e indivíduos com aumento de transaminases acima de 3x o limite superior de normalidade, com intervalo QTcF > 450 ms, com cardiopatia estrutural ou com alto risco de resistência a bedaquilina, pretonamida ou linezolida foram excluídos.

O grupo de intervenção (BPaLM) recebeu linezolida 600 mg/dia por 16 semanas, seguidos de 300 mg/dia por 8 semanas, pretonamide 200 mg/dia por 24 semanas, bedaquilina 400 mg/dia por 2 semanas, seguida de 200 mg, 3x/semana, por 22 semanas, e moxifloxacino 400 mg/dia por 24 semanas. O grupo controle recebeu tratamento padrão conforme as recomendações da OMS.

A eficácia de cada esquema foi avaliada por meio de avaliação clínica e cultura e exame de escarro. As avaliações de segurança incluíram eletrocardiograma, audiometria, exames laboratoriais de bioquímica sérica, e exames físico e ocular regulares.

O desfecho primário foi um status desfavorável, um desfecho combinado de óbito, falha terapêutica, descontinuação de tratamento, recorrência de tuberculose ou perda de seguimento, avaliado 72 semanas após a randomização.

Resultados

A análise final incluiu 275 participantes na coorte por intenção de tratamento modificada (modified intention-to-treat): 137 no grupo do tratamento padrão e 138 no grupo de BPaLM. Em relação ao desfecho primário após 72 semanas, 56 (41%) participantes no grupo controle e 16 (12%) no grupo de BPaLM apresentaram critérios para desfecho desfavorável. O principal motivo para o desfecho foi descontinuação prematura, majoritariamente por eventos adversos.  Diferença no risco de desfecho desfavorável entre os grupos variou dependendo do país de recrutamento ou status de infecção pelo HIV, sendo menos pronunciada na África do Sul e em pessoas vivendo com HIV. Os resultados foram mantidos após ajuste.

O desfecho também foi avaliado ao fim de 108 semanas após a randomização e foram consistentes com o da análise principal na semana 72. O tratamento com BPaLM foi considerado não-inferior em comparação ao tratamento padrão tanto em 72 quanto em 108 semanas.

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Entre os participantes avaliados em relação aos desfechos de segurança, 72 (48%) dos 151 participantes no grupo de tratamento padrão apresentaram pelo menos um evento adverso de grau 3 ou superior dentro das 72 semanas de acompanhamento, comparadas com 34 (23%) dos 151 participantes do grupo de BPaLM. Eventos adversos frequentes incluíram desordens hepáticas, cardíacas (principalmente prolongamento de QT), e anemia.

Fonte: https://pebmed.com.br/regimes-orais-de-curta-duracao-para-o-tratamento-de-tuberculose-resistente/