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São Paulo, 468 anos: Ativistas dizem que na pandemia de Covid-19 política de aids não ficou para trás, mas criticam déficit de profissionais nos serviços

Publicação: 31 de janeiro de 2022

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A cidade de São Paulo completa 468 anos nesta terça-feira (25) e, para comemorar o aniversário, a Agência de Notícias da Aids convidou lideranças no movimento social para avaliar a política de aids do município. Quase todos elegeram o avanço da PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV) e a redução de novos casos de HIV como destaque da política no último ano. Também comemoraram a certificação da eliminação da transmissão vertical e a atuação da gestão e dos serviços especializados ao longo da pandemia de Covid-19, com ênfase na vacinação anti-Covid. Outro destaque foi para a criação da Frente Parlamentar de Enfrentamento as ISTs, HIV e Tuberculose na Câmara Municipal de Vereadores. Por outro lado, eles chamaram atenção para a crise de recursos humanos enfrentada pelos serviços de aids, oriundos da falta de concursos públicos que afetam no acolhimento e tratamento das pessoas vivendo com HIV/aids e outras ISTs. Leia a seguir:

Eduardo Barbosa, coordenador do Mopais (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids) e diretor do CRD Brunna Valin: “A Cidade de São Paulo registrou o primeiro caso de aids e como uma megalópole acabou por concentrar grande parte dos casos ao longo das 4 décadas. Foi em São Paulo que tivemos também os primeiros serviços especializados e a primeira ONG Aids e Casa de apoio “Brenda Lee” – hoje na quarta década, temos aqui serviços estruturados e na maioria deles humanização, com acolhimento por parte das equipes. Conseguimos avançar na diminuição dos casos de óbitos e no registro de novos casos de HIV, conseguir evoluir para uma política que leva para a rua a PreP com possibilidades de ampliar a prevenção. Porém ainda é preciso lutar para que estes serviços e avanços não tenham retrocesso. Ameaças de terceirização, escassez de profissionais nos equipamentos (seja por aposentadorias ou remanejamentos), políticas sociais de assistência sem atualização ou desarticuladas e escassas. A luta por quebra de estigmas e discriminação ainda carece de muitos passos, para que a prevenção avance e o viver com HIV seja possível sem ter ainda que se viver na invisibilidade e com medo da exposição. Em São Paulo demos muitos passos posithivos e a trilha futura demanda compromisso da gestão e solidariedade e empatia da sociedade.”

Américo Nunes Neto, fundador do Instituto Vida Nova: “A política de IST/Aids que marcou a cidade de São Paulo em 2021 foi a ampliação de acesso as profilaxias Pré e Pós exposição do HIV, seguindo a mesma linha da prevenção combinada adotada pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para HIV/Aids. São estratégias diferentes no enfrentamento da doença, tais como, o uso da camisinha externa ou interna, gel lubrificante, diagnóstico e tratamento para pessoas que vivem com HIV, testagem e a redução de danos. Também a ampliação da dispensação de insumos de prevenção em grande escala com maior acesso em vários serviços de saúde da atenção primária e outros locais. Avalio que nessas questões a cidade de São Paulo tem avançado. Outro avanço importante foi a instalação da Frente Parlamentar de HIV/Aids e Tuberculose, da qual acredito que muito poderá potencializar melhores repostas na cidade de São Paulo na assistência e prevenção, com uma política com intra e intersetorialidade para transversalizar a saúde das pessoas com HIV/Aids em todos os níveis de atenção à saúde. É perceptível o avanço na política de IST/Aids e Tuberculose com envolvimento de outras pastas de governos, bem como na articulação com outros movimentos e coletivos de pessoas a partir do lançamento do Edital da Coordenadoria Municipal de IST/Aids em busca de novas estratégias com inovações para ações de prevenção.  Em tempos da Covid-19, a assistência às pessoas com HIV/Aids (PVHA) teve uma força tarefa entre Sociedade Civil Organizada e a Coordenadoria de IST/Aids da cidade de São Paulo, envolvendo a Rede Municipal Especializada (RME), essa soma de esforços resultou na atenção para a vacinação da Covid-19 nos serviços da RME, dispensação de medicamentos, saúde mental e na subsistência alimentar. A falta de profissionais tem causado insatisfação das PVHA, gerando morosidade nas consultas, evasão no tratamento e outros procedimentos de saúde, também gerando situações de violência verbais contra os profissionais que apesar de exaustos estão fazendo o seu melhor dentro das possibilidades e limitações. Tudo isto tem gerado um ambiente de tensão e pressão por parte da gestão/gerência. Por isso, é necessária uma política adequada de trabalho para esses trabalhadores para que possam assistir os pacientes com mais humanização e escuta ativa integralizada. Tudo isso pode ser melhorado com uma gestão eficiente da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e Prefeitura nas contratações ou concursos públicos. Os trabalhadores da saúde precisam ser respeitados tanto pela gestão quanto pelos usuários do SUS. Enquanto Mopaids, cobramos das instâncias deliberativas um canal de comunicação mais eficiente para melhorar essas questões e a resposta na luta contra a aids na cidade de São Paulo. Como tudo que se avalia, restou algumas deficiências, serviços com falta de equipe multidisciplinar, ausência de concurso público para médicos sendo negligenciado pela prefeitura. Nesse sentido fica a expectativa para 2022 melhor assistência às PVHA, para que também seja o viés mobilizador por melhor resposta na assistência, acolhimento, humanização e vinculação.  A cidade de São Paulo completa 468 anos e eu quero poder comemorar esse aniversário de uma forma especial com a nova coordenação do Mopaids e que todas crianças de 3 a 11 anos de idade até junho sejam vacinadas contra a Covid-19.”

Maria Elisa, representante do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas na cidade de São Paulo: “A política de aids da cidade é muito boa, mesmo ao longo da pandemia, temos serviços e médicos que fazem um bom atendimento. Como qualquer grande metrópole, também temos por aqui dificuldades com serviços especializados de algumas regiões, como os da região leste.  Observamos nestes territórios serviços que estão apresentando problemas de atendimento, de infraestrutura, que geralmente são alvos de denúncias.  Temos ainda grandes e bons serviços, como o CRT, o Emílio Ribas, o Hospital das Clínicas, esses são de administração do Estado, mas ficam dentro da cidade. São espaços que tem feito muitos esforços para que a gente receba a medicação em dia, para que não falte antirretrovirais, para que as consultas, mesmo postergadas, aconteçam. O município de São Paulo é o melhor em termos de atendimento de aids no momento, principalmente na aplicação das políticas de aids. Como ativista do movimento de aids, destaco que o diálogo entre sociedade civil e governo é aberto. Nossa política de PrEP é muito boa. Aqui as pessoas dão importância para a saúde e os direitos humanos. Sou atendida no Emílio Ribas desde 1990 e posso garantir que graças a este serviço estou viva, é claro que tenho queixas, mas acredito que tudo vai melhorar com a novas contratações e abertura de leitos.”

José Carlos Veloso, da Rede Paulista de Controle da Tuberculose: “O que falar da maior e mais rica cidade do país e suas políticas públicas? É no mínimo fazer um esforço para entender as complexidades que envolvem o território paulistano. Quando olhamos para as políticas de HIV/Aids e IST’s em comparação com outras capitais, certamente iremos notar uma diferença, afinal estamos falando da cidade com certificado de eliminação de transmissão vertical de HIV, com o maior número de pessoas em tratamento para PREP (profilaxia pré-exposição) para o HIV no país, entre outros avanços inegáveis, traduzidos em forma de projetos de gestão e apoio a sociedade civil. Mas ainda sim existem desafios para as políticas públicas de saúde e assistência social. Em especial para os serviços de Aids que enfrentam uma crise de recursos humanos, oriundos da falta de concursos públicos que afetam no acolhimento e tratamento faz pessoas vivendo e afetadas pelo HIV/Aids. A terceirização dos serviços de saúde para as Organizações Sociais, também impactam na prevenção das IST’s com destaque para a sífilis, sífilis congênita, tuberculose entre outros agravos tratados na atenção primária. Ainda sim estamos falando da cidade mais rica do país. Contraditório, não? Feliz Aniversário São Paulo!”

Betinho Pereira, coordenador do Projeto Bem-Me-Quer: São Paulo completa 468 anos, com tudo que tem de melhor a oferecer e com todos os desafios de uma grande metrópole. Nós vivemos momentos muito difíceis por conta da pandemia de Covid-19, o empobrecimento da população, desemprego, elevação imensa dos casos de mortes. Ainda sim é importante ressaltar que a política de aids não foi deixada de lado pela coordenação. O município conseguiu dar conta em grande medida daquilo que se propoe como coordenadoria. São Paulo conseguiu reduzir em 2021 para menos de 2500 novos casos de HIV, a detecção está bem baixa, este é um resultado importante da política de prevenção combinada. Temos 55 serviços que oferecem PrEP na cidade, mais de 15 mil pessoas fazem o acompanhamento, sabemos que a PrEP é fundamental para as populações-chave e mais vulneráveis. Se essas populações estão conseguindo ter acesso a medicalização da prevenção, essas pessoas não contraem e não transmitem. Isso está diretamente ligado ao impacto da redução do número de casos. São Paulo está conseguindo alcançar as metas 90-90-90 da ONU, isso é muito importante. Vale ressaltar que mesmo com a diminuição do número de preservativos pelo Ministério da Saúde, a cidade conseguiu uma marcar importante de 55 milhões de preservativos distribuídos. A gente é ativista, avaliamos os prós e contras e os desafios. Não tem como neste momento não parabenizar o conjunto de atores na luta contra a aids, seja na esfera governamental, seja na esfera comunitária. A luta contra a aids no município de São Paulo tem muito engajamento, mesmo diante da pandemia de Covid-19. O único desafio que eu entendo que é o mais difícil de vencer neste momento são os casos de sífilis que aumentaram 500%, cinco vezes mais do que nos anos anteriores. O preservativo ainda é o único meio de prevenção da sífilis, embora ela tenha cura, você não imuniza a pessoa, ela pode se reinfectar. Também tenho observado muito abandono de tratamento, muitas pessoas deixaram de buscar seus medicamento ao longo da pandemia de Covid: alguns abandonaram por medo de sair de casa e contrair a Covid, outros entraram em depressão, muita gente perdeu familiares, enfim, há vários fatores sociais associados. É preciso um esforço coletivo para ajudar na retenção e busca ativa, para que as pessoas voltem a suas consultas, voltem a pegar os medicamentos. Neste momento, os dois grandes desafios na luta contra as ISTs/Aids é reduzir a taxa de transmissão de sífilis por meio do incentivo ao uso do preservativo e também que as pessoas vivendo com HIV/aids voltem a fazer os seus tratamentos de forma adequada.  O empobrecimento em massa da população está ligado estruturalmente a luta contra a aids. São inúmeros desafios, temos avanços importantes na redução de casos, mas temos desafios sociais, desafios em ISTs, desafios em manter as pessoas em tratamento. Este aniversário é muito mais celebrativo do ponto de vista da luta contra aids do que de identificação de problemas, é um trabalho incansável, seja da gestão da saúde ou das ONG que tem um trabalho de base incrível e chega onde o governo não chega.”

Patrícia Perez, coordenadora do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids): “Em São Paulo estamos vendo de perto o avanço da ciência em relação a prevenção do HIV/aids, do tratamento, mas o governo municipal ainda omite a falta de avanços nas políticas sociais para as pessoas vivendo com HIV/aids e toda a população em maior vulnerabilidade para o HIV. Os pontos positivos são a certificação pela eliminação da transmissão vertical do HIV, somos a cidade que mais fornece PrEP. Por outro lado, estou acompanhando de perto a falta de apoio e políticas públicas para as mulheres que vivem com HIV e desejam engravidar. A maternidade deveria ser um sonho, mas acaba se tornando algo de medo, violência por conta da sorofobia. Por mais que a política de aids em relação a ciência tenha avançado, a gente tem um entrave muito grande que é o preconceito, a falta de informação, e isso alimenta o estigma. Faltam políticas sociais e de educação. São Paulo tem muito a avançar neste campo e acredito que com a frente Parlamentar vai ter a oportunidade de discutir essas e outras questões e construir uma política macro.

David Oliveira, do Projeto Doses de Vida: “As políticas de aids na cidade estão caminhando, meu sonho para o nosso município é que avance muito mais em acessos, temos a PrEP na rua e algumas outras ações, mas é pouco. Precisamos alcançar outros territórios, as comunidades, as escolas e os espaços que ainda estão carentes de acessos e estrutura. Espero também avanços e renovação nos serviços especializados em HIV/aids na cidade, principalmente na questão da saúde continuada.”

Fonte: https://agenciaaids.com.br/noticia/sao-paulo-468-anos-ativistas-dizem-que-mesmo-durante-a-pandemia-de-covid-19-politica-de-aids-no-municipio-nao-ficou-para-tras-mas-criticam-deficit-de-profissionais-nos-servicos/

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