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Série Especial DMCTB – Entrevista com Profa. Ethel Leonor Noia Maciel

Publicação: 26 de dezembro de 2018

A terceira entrevista da Série Especial do Dia Mundial do Combate à Tuberculose, a Professora Ethel Leonor Noia Maciel, Coordenador da Área de Epidemiologia, fala sobre os estudos, diagnósticos e cuidados com a Tuberculose, além do papel da Rede TB no combate à doença.

O Ministério da Saúde tem o Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como uma de suas metas. Este plano, além das ações usuais de controle de TB (Pilar 1), inova ao inserir a Proteção Social (PIlar 2) e a Pesquisa e Inovação (Pilar 3). Quais são as maiores dificuldades para que esse Plano possa ser bem sucedido? O que se deve fazer para que isso não ocorra?

Uma das grandes apostas da nova estratégia em relação ao Pilar 2 é a cobertura universal da saúde. O Brasil nesse sentido seria um país modelo, já que o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) tem como princípio norteador o acesso universal.

Em que pese os vários problemas do atual financiamento do SUS, o Programa Nacional de Controle da Tuberculose possui em toda sua rede acesso desde o diagnóstico ao tratamento gratuito, assim como um controle dos fármacos utilizados, já que eles não estão disponíveis para serem compradas na rede privada. Além disso, o Brasil possui hoje o maior programa de transferência de renda no mundo, o bolsa família. Apesar deste não ser um programa específico para TB, estudos da área de epidemiologia da Rede, apontam a associação entre ser beneficiário do programa bolsa família e ter menores taxas de abandono do tratamento.

Alguns outros estudos em andamento podem indicar no futuro quais programas que serão específicos para a proteção social, com ajuda financeira ou alimentícia durante o tratamento podemdo contribuir para a cura e, consequentemente, ter sucesso no tratamento. Aliado a isso, pesquisas com modelos matemáticos podem nos ajudar a escolher estratégias de intervenção que fortaleceriam o Pilar 3.

A senhora participou da consulta pública aberta pelo Ministério da Saúde para reunir contribuições de gestores públicos, coordenadores de programa, representantes da sociedade civil na elaboração do Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose. Ainda segundo o Ministério, apesar dos esforços realizados, a redução anual de casos novos de TB (incidência) continua em 1,5%. Para alcançarmos a meta de Eliminação de TB, a redução anual da incidência deve ser superior a 15% ao ano. Na sua opinião, o que deve ser priorizado em nosso país para agilizarmos o cumprimento desta meta?

Um maior investimento em pesquisa, sem isso haverá dificuldade para atingirmos as metas do Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose. Realizando as mesmas estratégias como o mesmo diagnóstico e tratamento, estamos diminuindo a incidência em torno de 1,5% ao ano, será insuficiente para chegarmos a meta de fim da tuberculose em 2035. Entender a epidemiologia da doença nos grupos vulneráveis e incorporar de modo crítico os novos diagnósticos que já estão disponíveis em maior escala, tornam-se fundamentais..

O que pode a Rede TB pode realizar para engajar ainda mais a área acadêmica no combate a Tuberculose?

Elaborar um material para ser divulgado junto aos conselhos e associações de classe, assim com entidades que realizam provas de residência médica ou multiprofissional para sensibilizar na introdução do tema da tuberculose em seus treinamentos e provas. Induzir essa formação, pois já que temos observado em estudos da Rede TB que a tuberculose é tema periférico nos currículos de escolas de enfermagem e medicina.

Nos campos da pesquisa, acredito que a Rede TB tem feito tudo ao nosso alcance frente aos poucos recursos disponíveis no Brasil para uma doença que causa anualmente mais de quatro mil mortes.

O que a senhora acha do papel da Rede TB no apoio dessa campanha e o que ela pode ajudar no Pilar 1, Pilar 2 e Pilar 3?

A Rede TB já está comprometida com essa campanha. Diversos pesquisadores estão estudando diferentes aspectos da doença e participam dos grupos de consultores no Ministério da Saúde e na Organização Mundial da Saúde.

Analisando a lista de prioridades entre as 7 Plataformas de Pesquisa (ver abaixo) estabelecidas no “survey” conduzido pela Rede TB e PNCT-SVS-MS em 2016, há temas adicionais que considera fundamental ser contemplado para alcançarmos a meta de Eliminação da TB no Brasil, até 2035?

Acredito que todos os grandes temas foram contemplados. Acrescentaria na área epidemiológica mais explicitamente os estudos que estamos realizando sobre custos catastróficos e sobre impactos da proteção social nos desfechos de tratamento de pacientes com tuberculose.Nas próximas semanas teremos novas propostas de pesquisa na área de Proteção Social, oriundos do Workshop Internacional de Pesquisa sobre Protecção Social em TB, realizado em Brasilia, 25-26 de abril de 2017.

ETHEL LEONOR NOIA MACIEL possui Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Espírito Santo (1994), Mestrado em Enfermagem de Saúde Pública pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999), Doutorado em Saúde Coletiva/Epidemiologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2004) e Pós-doutorado em Epidemiologia pela Johns Hopkins University (2008).  É professora associada da Universidade Federal do Espírito Santo e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq em Epidemiologia. É Coordenadora de área de Epidemiologia da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (REDE-TB). Membro da Comissão de Epidemiologia da ABRASCO. Co-Titular da Cátedra Sérgio Vieira de Mello do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados na UFES e membro do Grupo Técnico Assessor da OMS para Tuberculose. Atualmente é Vice-reitora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

 

Por Raphael Silva

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